Prefeito de Capela do Alto recebeu e jornal divulgou resultado de pesquisa feita por Instituto denunciado no “Fantástico”

Política 07 ago / 2018 às 06:55

O suposto comércio de diplomas de mérito para prefeitos, vereadores e secretários municipais, divulgado ontem em reportagem pelo programa Fantástico, da Rede Globo, pode ter tentado atuar em Capela do Alto. O prefeito Péricles Gonçalves, o Kéke, recebeu em 2017 o certificado de qualidade de gestão de uma das empresas apontadas pela reportagem, que mostrou a concessão de tal honraria a um jumento, como comprovação de um sistema fraudulento apurado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. A Prefeitura de Capela do Alto foi questionada, e em nota disse que não participou do evento e nem efetuou nenhum tipo de pagamento para o instituto.
De acordo com a matéria veiculada no “Fantástico”, políticos são suspeitos de supostamente usarem recursos públicos para conquistar as premiações. As empresas que fornecem os prêmios são a União Brasileira de Divulgação, ou UBD, de Pernambuco, e o Instituto Tiradentes, de Minas Gerais, o mesmo que apresentou ao prefeito de Capela do Alto os resultados de uma pesquisa sobre a qualidade de sua gestão. Juntas, as duas instituições promovem até 20 premiações por ano. A reportagem do Fantástico mostrou a investigação do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Políticos gaúchos são suspeitos de usarem recursos públicos para conquistar as premiações.

 

Jumento é diplomado “Gestor Nota 10”

Para mostrar a falta de critérios na hora de conceder esse tipo de premiação, a reportagem do Fantástico conseguiu negociar a compra de um diploma para um jumento – o jumento Precioso. Ele comprou a premiação do “prefeito Precioso” por R$ 1.480. Na véspera do evento da UBD em Recife, a reportagem entregou o dinheiro ao dono da empresa, Fernando Vieira da Cunha, e recebeu a medalha e o diploma. O Jumento foi eleito um “gestor nota 10”, classificado na pesquisa nacional de utilidade pública entre os “100 melhores prefeitos do Brasil”.

 

Pesquisa divulgada em Capela do Alto

O jornal Capela em Foco divulgou, em agosto de 2017, a pesquisa desenvolvida pelo Instituto Tiradentes, que apontaria o alto índice de aprovação da gestão do Prefeito Kéke. De acordo com a postagem, a pesquisa teria sido realizada em todo o Estado de São Paulo, via consultas telefônicas, entre 26 de junho e 11 de julho. O chefe do executivo foi convidado a participar do 116º Seminário Brasileiro de Prefeitos, para ser homenageado com a Medalha Alferes Tiradentes.

 

O que apurou a matéria da Tv Globo

De acordo com a matéria do Fantástico, nos eventos, os políticos recebem diploma de “vereador mais atuante” ou “prefeito mais atuante”, ou medalhas comemorativas em virtude de pesquisas não catalogadas oficialmente. A maioria dos participantes desse tipo de evento supostamente usa dinheiro público para pagar pelas inscrições nos seminários e também gasta diárias pagas pela prefeitura ou pela Câmara para ir nas cerimônias.

Um levantamento do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul mostra que só no Estado o Instituto Tiradentes faturou R$ 116 mil em 2016 e 2017, com três eventos. O Instituto até promove seminários juntamente com a entrega dos prêmios. Mas, o Ministério Público do Rio Grande do Sul acha que os seminários são apenas uma desculpa.

“É uma maneira de vender melhor o encontro, de maquiar, na verdade, a falcatrua que se esconde por trás e o conluio existente entre a empresa e o agente público. Esses eventos visam claramente à promoção pessoal do gestor, do agente público e, de outro lado, o lucro das empresas. Nenhuma finalidade pública”, declarou o procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen.

O procurador diz que não existem critérios para escolha dos melhores gestores do Brasil. “O critério é, sim, aqueles prefeitos que se dispuseram a custear o lucro da empresa que promove esse falso evento”.

O especialista em gestão pública Aloísio Zimmer, examinou os indicadores sociais das gestões premiadas pela empresa em todo Brasil e identificou problemas graves em áreas como saúde e educação. Assim, no contexto da fraude, Zimmer entende que a verba pública usada nesse tipo de evento não é o principal problema. O que preocupa, segundo ele, são as “fakenews” geradas como repercussão das premiações, especialmente em blogs e redes sociais, o que pode, inclusive, influenciar nas eleições.

“Cria-se uma narrativa e até mesmo uma implantação de falsas memórias no cidadão que depois será eleitor, porque o prefeito passa uma imagem de bom gestor, de protagonista das soluções mais importantes da cidade, de que ele é alguém capaz de melhorar a vida da população”, afirma.

 

O que diz o Instituto

Em nota ao Jornal de Capela, o Instituto Tiradentes diz que não comercializa medalhas e diplomas de mérito, nem certificados de participação em seus seminários. No caso do prefeito Keke, o instituto informou que não cobrou pela pesquisa.

 

O que diz a Prefeitura

Questionada, a Prefeitura de Capela do Alto mandou a seguinte nota:

Recebemos a pesquisa via correio sem ter encomendado ou avisado previamente pela empresa. Foi uma surpresa receber essa pesquisa.
Na Pesquisa constava que haveria uma data para um evento, onde teríamos que efetuar um pagamento para receber o prêmio. Não participamos do evento e nem efetuamos nenhum tipo de pagamento para o instituto.
Como dissemos foi uma surpresa receber essa pesquisa. E prezamos pela credibilidade, por não conhecer o instituto nem ter solicitado nenhuma pesquisa não demos atenção ao mesmo.

 


Mais Notícias